Isaak Yudavich Azimov, foi um escritor e bioquímico norte-americano, nascido na Rússia em 02/01/1920 e morreu no Brooklyn (USA) em 06/04/1992. Entre suas produções há a às Leis da Robótica, que definem:
Um robô não pode ferir um ser humano ou permitir, por omissão, que um ser humano seja ferido.
Um robô deve obedecer a todas as ordens que receber de um ser humano, exceto no caso de a obediência acarretar numa violação da primeira lei.
Um robô deve preservar a própria existência, exceto no caso de essa preservação acarretar uma violação da primeira ou da segunda leis.
São leis que mostram que há uma reflexão ética nos seus princípios universais (preservação da vida), mas há também a preocupação do agir moral cultural: “Um robô deve obedecer a todas as ordens que receber de um ser humano...”. Essa “obediência”, está relacionada as regras existentes do determinado grupo que está criando o robô. A moralidade aqui é em função da cultura do povo em questão, que não é universal.
Isso implica em:
Se o robô agir localmente, ele deverá obedecer às regras dos humanos que vivem naquele grupo em específico. Por exemplo: se o robô é um carro automático que está localizado em São Paulo, SP, Brasil, ele deverá obedecer a todas as regras existentes que a lei municipal, estadual e federal exige que sejam cumpridas ao dirigir um veículo motorizado. Essas regras podem ser diferentes se esse robô for levado para Índia por exemplo.
No caso da ética com suas regras universais: preservação da vida, o robô é ou deveria ser o mesmo em qualquer lugar do mundo.
Isto posto, demonstra a importância de se conhecer de forma estruturada e profunda a ética com seu juízo de valor universal e da moral com seu juízo de valor local e cultural.
Quando falamos de algoritmos em diversas aplicações, estamos falando dos mesmos princípios éticos universais e das regras morais culturais locais, na hora da sua concepção e usabilidade. Em um mundo globalizado, os princípios éticos universais até podem ser cumpridos, porém as regras morais culturais locais, dificilmente serão.
Quais os problemas decorrentes dessas premissas?
Primeiro. É mister que os programadores e todos os agentes envolvidos nessa atividade da inteligência artificial conheçam, de forma exaustiva, profunda e estruturada, os conceitos corretos de ética e moral. Sem conhecer esses temas, o risco de criarem algo antiético, aético, imoral e amoral é de 100%.
Segundo. As regras de Azimov devem ser revisitadas e adaptadas a todos os contextos da inteligência artificial.
Estamos longe dessas premissas e, embora haja ações para discutir a ética e moral em inteligência artificial, os agentes que estão fazendo isso não são filósofos estudiosos dos temas (a ética e moral é um campo da filosofia). Temos utilizados atalhos no conhecimento estruturado, buscando interlocutores que queremos ouvir e não os habilitados. É mais fácil assim, pois esses temas nunca foram tratados com prioridade.
Quando estamos com um problema cardíaco, procuramos na medicina, um médico com especialização em cardiologia. É assim em todas as áreas do saber. Por que seria diferente na filosofia?
Se você procurar no Google a frase “conceito de ética” entre aspas, encontrará cerca de 3.750.000.000 páginas. A mesma coisa para a frase “conceito de moral”. Você encontrará cerca de 4.380.000.000 páginas.
Se você procurar: “conceito de cardiomiopatia” que é a inflamação no músculo cardíaco, resultando em seu aumento e enfraquecimento que prejudica a capacidade de bombeamento do sangue, levando à insuficiência cardíaca, aparecerá apenas 2.510 páginas.
A filosofia sempre foi desprezada ou renegada a um plano inferior do saber. Embora ela seja a gênese de todos os saberes existentes, ninguém dá o valor justo a filosofia. Há, na internet, vários memes sobre isso. Sempre existe algum ignorante perguntando: “Mas afinal, para que serve a filosofia?”.
Como filósofo, sempre acreditei que esse descaso é fruto do medo dos militares que, em 1964, no golpe militar, tiraram do ensino brasileiro a filosofia e sociologia. Eles falavam que essas áreas do saber poderiam, se ensinadas com propriedade, tornar quem aprendeu, não alienado, crítico e não submisso ao poder. Eles estavam certos.
Veja nas próprias redes sociais, em especial, no LinkedIn. Você vê pessoas que, na descrição do seu cargo ou profissão, ela é especialista em ética. Se você perguntar a essa pessoa, que formação em ética e moral ela teve, a resposta geralmente é, nenhuma. Ou corroborando com a minha narrativa, ela diz que teve aulas de ética e moral e/ou fez um curso com professores no seu MBA, Pós etc. Quando questionado se o professor era filósofo e especialista em ética e moral, a resposta é não.
A banalização de um saber que é vital para evolução humana, nos levará a cometer cada vez mais barbáries de todos os tipos e de todas as abrangências. Começarão com a programação dos algoritmos da inteligência artificial. Num futuro não tão longe, veremos essas consequências no nosso dia a dia como em um filme horripilante de ficção.
Xiko Acis | CEO 7S Projetos
+55 11 96466-0184
Assine a Newsletter da 7S Projetos e fique sabendo, em primeira mão, sobre a melhoria de repertório intelectual.
Comentarios