Estudar ética e moral e algo bastante complexo. Sempre será. Quando vejo na internet, principalmente no LinkedIn, equívocos sobre os conceitos corretos desses temas me pergunto: “Que raios a pessoa está falando?”; “De onde tirou essas definições?”.
Essa mania, não só brasileira, mas principalmente, de achar que sabe sobre tudo sem ao menos estudar ou tentar aprender de forma correta os conceitos, é um vício enorme e extremamente pernicioso para o saber.
De tanto ouvir equívocos, criei um filtro para esses temas que já estudo há 15 anos. Quando a pessoa fala algo sobre ética e moral, faço a pergunta: Você leu os livros: Ética e Nicômaco, Ética a Eudemo e Magna Moralia?
Se a resposta for não. Falo, então, que ela está equivocada e mudo de assunto. Se ela insiste em saber onde está o erro, eu explico com generosidade o que aconteceu com a ética e moral ao longo de 2.500 anos e me coloco à disposição. Faço isso porque nem sempre temos, para esses temas, pessoas interessadas.
O livro: Ética e Nicômaco foi escrito por Aristóteles para seu filho (Nicômaco), no século IV antes de Cristo. O livro Ética a Eudemo (discípulo) de Aristóteles, há controvérsia sobre a sua autoria. Uns dizem que foi escrito por Aristóteles, outros dizem que foi escrito por Eudemo. Já o livro Magna Moralia (Moral Maior), alguns autores dizem que o livro é de uma fase mais precoce de Aristóteles e outros dizem que não foi ele que escreveu. Independentemente, essas três obras mostram, claramente, o início da Ética e da Moral no mundo ocidental. Ainda temos alguns textos importantes de Sócrates/Platão que completam a obra conceitual inicial sobre Ética e Moral.
Posso te garantir: sem ler essas obras (os originais), você não tem como conhecer a gênese da ética e moral para poder falar sobre isso de forma estruturada e profunda. Depois deles ainda temos: Agostinho, Espinosa, Tomás de Aquino, Hume, Kant, Bentham, Hegel, Hobbes, Rousseau, Vázquez, Singer, Habermas, Cortina entre outros.
Por não sabermos as definições corretas, confundimos ética com moral e vice-versa. Aí acaba lendo ou ouvindo sandices como: a ética do bandido, a ética muda de empresa para empresa, código de ética, a moral universal e assim vai. É um desrespeito com quem estuda e se dedica aos temas. A pessoa procura o que é ética e moral no Google, faz um powerpoint e realiza uma palestra. É mole!
O maior problema disso é que não há profundidade nas definições de ética e moral. Sem os estudos e só utilizando o Google ou algumas definições dos StandUp Philosopher’s, banalizamos os conceitos e continuamos não aplicando no dia a dia.
Quando você aprende o conceito da ciência e sua importância para o desenvolvimento e manutenção da vida, por exemplo, você não vai negar a ciência jamais. Se tiver uma campanha de vacinação, você vai vacinar pois sabe que você faz parte de um todo e sua imunização ajudará na irradicação dos vírus. Simples assim!
Isso acontece com a Ética e Moral. Quando você aprende os conceitos de forma correta, é mais fácil você adotar e praticar esses conceitos no seu dia a dia. Seja no círculo familiar, com os amigos, na empresa, na comunidade, na cidade, no país e no mundo. Inicia-se um círculo virtuoso. Existem inúmeros exemplos no mundo de cidades que estão sem nenhum tipo de crime há muito tempo por meio do desenvolvimento da consciência humana. Não é fácil assumir uma reflexão ética e uma ação moral para vida. Tem que ter muito desejo de melhorar as coisas.
Voltando para o tema de Ética Aplicada, geralmente confundida com a moral. A ética, como já falei em outros artigos, trata do bem comum com viés universal. Já a moral, trata do certo e errado com viés particular. Assim, a ação moral é quando estamos obedecendo as regras criadas pelo um grupo de pessoas, as quais (regras) achamos ser boas para aquele grupo. Um código de conduta é uma ação moral para os colaboradores de uma empresa. A bíblia é uma ação moral para os cristãos. A constituição é uma ação moral para os brasileiros. O código de conduta médica é uma ação moral para os médicos e assim vai.
Assim sendo, a ética aplicada é como nós executamos essa ação, ou seja: imagine que você é cristão e, por ser cristão deve obediência as regras que estão na bíblia. É a mesma coisa em uma empresa. Se você não obedecer às regras do código de conduta da empresa você será demitido. No caso do cristão, parece que há uma certa permissividade em obedecer ou não as regras. Em todo caso, imagine que você quer obedecer a regra que está na bíblia sobre: “dar de comer a quem tem fome”.
Você viu uma família embaixo de uma ponte e resolveu passar no supermercado, comprar uma cesta básica e parou embaixo da ponte e deu para família. Você seguiu a regra da sua comunidade cristã e agiu de forma moral. Mas foi ético?
1 – Não foi ético, pois você pensou só em você. Você quis doar por algum motivo que podemos chamar de culpa. Como a ética é universal, você não envolveu a família nessa decisão. É claro que eles aceitaram, mas....
2 – Seria ético se: você falasse com eles primeiro para ver o que eles estavam precisando. Pode ser que eles já tinham comida, mas nenhum item de higiene. Pode ser que eles estivessem precisando urgente de remédios. Pode ser que, se você desse o dinheiro que gastou na cesta básica, uma pessoa da família pudesse comprar uma roupa para uma entrevista de emprego no dia seguinte.
A ética aplicada é quando você usa a reflexão ética para analisar como uma ação moral, em um contexto, foi realizada. Parece simples, mas é complexo. Se a moral é a regra, a ética aplicada é a análise de como foi sua conduta na realização da regra. Trata da sua intencionalidade genuína. Você deve conhecer muita gente que “faz o bem” com segundas e terceiras intenções.
Xiko Acis | CEO 7S Projetos
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