Em um cenário empresarial onde dilemas complexos são uma constante, a capacidade de distinguir entre ética e moral e aplicá-las na tomada de decisões é mais crucial do que nunca.
Recentemente, tive a oportunidade de observar essa distinção — ou a falta dela — em ação enquanto prestava consultoria a uma empresa de grande porte enfrentando um dilema ético significativo.
A experiência revelou insights profundos sobre a natureza das decisões corporativas e a compreensão de ética e moral por parte dos executivos de alto escalão.
Uma reunião do faz de conta...
Durante uma reunião crucial, o CEO da empresa convocou representantes de várias áreas — de compliance a ESG, de governança a recursos humanos — para discutir e aconselhar sobre um dilema ético premente. Cada departamento apresentou seus argumentos, mas uma tendência preocupante emergiu: a inclinação predominante para argumentos baseados em moralidade, em detrimento de uma fundamentação ética. Ao expressar minha análise, destaquei que as decisões estavam sendo fundamentadas em considerações morais, não éticas, e que, sob uma perspectiva ética, tais decisões falhavam em garantir sustentabilidade a longo prazo.
Me senti como o palhaço da foto...
Este episódio ilustra uma realidade preocupante: muitos líderes corporativos, incluindo CEOs, podem não ter uma compreensão aprofundada da ética em contraposição à moral. Ao delegar decisões críticas às diversas áreas da empresa, em vez de adotar uma postura ética firme, revela-se uma preferência por conselhos departamentais em detrimento de princípios éticos robustos. Essa abordagem não só sugere uma democracia aparente como também mascara uma incapacidade de formular um juízo de valor que seja equânime, justo, imparcial e, portanto, ético.
Liderança limitada...
O que isso diz sobre a liderança corporativa contemporânea? Em primeiro lugar, aponta para uma tendência de tomar decisões com base na conformidade com normas e regras estabelecidas — a moralidade — sem questionar sua adequação ao bem comum ou sua justiça e sustentabilidade no longo prazo. Isso evidencia uma visão limitada, onde a adesão ao status quo é priorizada em detrimento da inovação ética e da justiça social.
Além disso, reflete uma desconexão preocupante entre as práticas empresariais e os princípios éticos universais que deveriam orientá-las. Diante de desafios globais crescentes, é imperativo que as empresas não só busquem lucro, mas também contribuam positivamente para a sociedade. Isso exige uma reavaliação dos valores que orientam as decisões corporativas, favorecendo uma ética universal e fundamentada em detrimento de uma moralidade local e impositiva.
Portanto, urge que as empresas adotem uma abordagem ética em suas operações, o que vai além de políticas de compliance e ESG, requerendo uma mudança cultural que coloque os princípios éticos no cerne da tomada de decisões. Os líderes empresariais devem ser estimulados a adotar uma visão que transcenda a moralidade convencional, questionando o impacto de suas decisões na sociedade como um todo.
Líder Ético...
A liderança ética demanda coragem: a coragem de questionar o status quo, de tomar decisões que podem ser impopulares a curto prazo, mas que são justas, sustentáveis e benéficas no longo prazo. As empresas dispostas a embarcar nesse caminho não só se destacarão em seus setores, mas também contribuirão para um futuro mais justo e sustentável.
Diante disso, proponho uma reflexão: estamos prontos para desafiar as bases das decisões corporativas? Estamos dispostos a priorizar a ética sobre a moralidade convencional, não apenas como uma formalidade, mas como um compromisso autêntico com o bem-estar coletivo e a justiça social?
O futuro da liderança corporativa depende de nossa capacidade de responder a essas questões com ações significativas e comprometidas. É hora de uma mudança de paradigma — uma que coloque a ética no coração do universo corporativo. O mundo corporativo global está mudando para esse fio condutor. O Brasil está atrasado nessas mudanças. Até quando?
Xiko Acis | Provocador
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