No meu texto da semana passada, escrevi sobre Ethics Washing e os institutos que se auto denominam guardiões da ética, só que não. Escrevi também sobre uma empresa que criou um pseudo ranking de organizações com “cultura ética”.
No relatório de 2022, que essa empresa publicou (disponível no site deles), eles listam cerca de 2.800 organizações que, para eles e tão somente para eles, são organizações que por um critério bizarro, têm “cultura ética”.
Em nosso país, é muito difícil achar uma única organização com cultura ética, verdadeiramente, instalada. Eu, particularmente, não conheço nenhuma.
Volto a insistir num ponto crucial para fazer tal afirmação: o conhecimento estruturado e profundo de ética e moral. Sem esse conhecimento, as pessoas bem intencionadas e as não tão bem intencionadas, acreditam que: “cultura ética” é fazer a coisa certa.
Fazer a coisa certa, agir de acordo com os combinados, seguir as regras e assim por diante, trata-se da cultura moral que já é uma grande coisa. Mas não é cultura ética propriamente dita.
Quando uma organização, um coletivo, um grupo de pessoas seguem os combinados estabelecidos e/ou as regras estabelecidas, sejam elas leis ou não, essa organização está sendo moral. Se ela consegue agir de forma correta, independentemente de existirem regras ou não, aí podemos dizer que a organização criou sua “Cultura Moral”.
Immanuel Kant (1724-1804) filósofo alemão dizia: “Duas coisas me enchem a alma de crescente admiração e respeito, quanto mais intensa e frequentemente o pensamento delas se ocupa: O céu estrelado sobre mim e a lei moral dentro de mim.”
Kant acreditava que o ser humano já vinha de fábrica com um senso moral instalado. Que de alguma forma sabemos o que é certo e errado. Assim, a “cultura moral” organizacional, não é um grande feito. É uma tendência de fazer a coisa certa, seja por medo de passar vergonha ou pelo medo da punição. É a preocupação com o medo que nos move em relação a moral.
Já a cultura ética é outra coisa. Como eu disse, não conheço organizações que tenham essa cultura, pelo menos no Brasil. Para desenvolver a cultura ética organizacional, além de levar muito tempo, os donos da organização devem querer isso após conhecerem ética profundamente.
Quando sou chamado para esse trabalho hercúleo, começo fazendo um workshop ou oficina , com os donos, para explicar com detalhes, o conceito e o alcance da ética. Após isso, as organizações preferem não implantar a cultura ética, entendendo o tempo que isso levaria, as mudanças que deveriam fazer e os problemas que teriam que enfrentar, seja do ponto de vista profissional, pessoal e social.
Já cheguei a ouvir: “Xiko, até agora eu não sabia nada sobre ética e moral. Pelo que entendi, eu ainda não sou ético para querer implantar esse tipo de cultura na minha empresa. Vamos implantar uma cultura moral e, quem sabe um dia, chegaremos à cultura ética.”
Para se ter uma genuína cultura ética organizacional, é necessário que todos os Stakeholders da organização, se preocupem em entender quais são as consequências das ações de todos em relação ao bem comum universal. Assim, se sua organização fabrica, comercializa, presta serviços etc., você e todos os demais agentes, diretos ou indiretos, devem se perguntar: “O que fizemos hoje, ajudou de alguma forma o mundo?”.
A organização chegara à conclusão de que, o máximo que ela vai conseguir é assumir, perante a todos, uma Postura Ética e Moral, que é:
“Um exame permanente do alcance das minhas ações voltadas para o bem, e da minha disposição de aceitar, seguir e propor modificações das regras estabelecidas.”
A cultura ética vai nascer, da melhoria de repertório e da elevação da consciência, quando examinamos a qualidade das nossas ações voltadas para bem. É a preocupação com o outro (humanos e não humanos) que nos move em relação a ética.
Xiko Acis | CEO 7S Projetos
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