Você já reparou que existem muitas atividades que trazem a ética e alguma coisa?
Pois bem, atividades como: Ética e Inteligência Artificial (nova moda agora); Ética e Saúde; Ética e Compliance; Ética e Governança; Ética e ESG; Ética e LGPD; Ética e Responsabilidade Social; Ética e Sustentabilidade; Ética e Finanças; Ética e Economia; Ética e Vida, Ética e Anticorrupção; Bioética e tantas outras ética e alguma coisa. Basicamente estamos falando aqui de ética aplicada. Um segmento de estudos da ética e moral, muito importante na atualidade.
Como sou um estudioso desses temas, toda vez que aparece nas mídias eventos, palestras, oficinas, lives, cursos, workshops, seminários etc., procuro participar para ver o que estão falando sobre o assunto, me atualizar e aprender.
Quase sempre me frustro. Raramente me surpreendo com alguma proposta nova e um entendimento de ética e moral efetivamente contributivo. Os fatores que me frustram são:
A Ética aparece nesses eventos, sempre como coadjuvante e quase nunca como protagonista. Se estamos tratando de ética e alguma coisa, no mínimo a ética deveria ser a protagonista, não acham? Tornar a ética coadjuvante nessas narrativas e apequenar a ética junto a atividade. Além de não ser correto é uma forma de demonstrar o conhecimento superficial da ética (ética de google ou ChatGPT) e tentar conectá-la a atividade em foco. Sempre que participo desses eventos saio com a certeza de que as pessoas que falaram, sabem muito da “alguma coisa” e quase nada de ética e moral;
Outro ponto que me frustra é que, as pessoas que falam nesses eventos pensam que estão falando de ética, mas na verdade estão falando de moral. Participei outro dia de um evento sobre Inteligência Artificial da UFSCar, onde o palestrante que conhecia muito sobre o tema (muito mesmo), em determinado momento de falar sobre ética e moral e associar ao tema, disse: “como vocês sabem, ética e moral são sinônimos e quando olhadas do ponto de vista da Inteligência Artificial devem funcionar como regras rígidas a serem seguidas e respeitadas”. Nesse momento vi que essas atividades se dissociaram tanto de outros saberes que estão verdadeiramente perdidas. Em uma universidade que teve Bento Prado Jr e outros filósofos de renome, um professor doutor falar uma baboseira dessa é imperdoável;
Qual a razão, de quando for fazer um evento que tenha a ética e moral e “alguma coisa” como tema, não buscar levar um filósofo que conhece sobre ética e moral para fazer uma análise em conjunto com os demais participantes? A resposta que encontrei, incluindo aqui uma pesquisa informal junto aos palestrantes desses eventos, é que ética e moral é uma coisa que, de alguma forma, todos sabem um pouco. Além disso, dizem eles, que é difícil achar no mundo conceitos de ética e moral convergentes. Nessas horas, minha alma deixa meu corpo e vai dar umas voltas pelo cosmo.
Na verdade, o que essas pessoas têm é medo de passar vergonha na discussão de um assunto coadjuvante (que elas sabem muito) com outro assunto protagonista (que elas não sabem nada ou muito pouco). Isso faz com que essas pessoas se aventurem, no momento das definições importantes, porque na verdade elas desejam do fundo do coração serem as protagonistas em todo o momento. Colocam os coadjuvantes para correr literalmente.
Venho lutando por mais de 18 anos para que a ética e moral sejam aprendidas corretamente para serem respeitadas justamente. Deveríamos iniciar o aprendizado desses temas na mais tenra idade e nunca parar. Educação infantil, fundamental, médio e universitário e assim por diante. Faço palestras gratuitas, converso com interessados sobre os temas, participo de grupos aqui no Brasil e fora dele e assim vou tentando contribuir com a passagem desse conhecimento importantíssimo.
Desde que comecei essa saga, acredito que avancei alguns centímetros e uma corrida de milhares de quilômetros. Motivos para desistir não me faltam. Mas sigo na jornada pela teimosia e pelas pessoas que amo. Vamos em frente!
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