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ABD - Aprendizagem Baseada em Dilemas

Dilema Resumido:

#012 – Cotas Étnicas

O Dr. Rosenberg, à frente de um escritório de advocacia em expansão, se vê diante da tarefa de contratar um novo advogado tributarista para atender a demanda de um grande cliente recém-adquirido. Após um processo seletivo minucioso, realizado por uma consultoria especializada, dois candidatos igualmente qualificados emergem como finalistas. Pedro, que é branco e judeu, e Marcos, negro e ateu. Ambos possuem as mesmas qualificações, experiência e desempenho nos testes. No dia das entrevistas finais, após conversas individuais com cada um, o Dr. Rosenberg decide contratar Pedro. Questionado por Marcos sobre o motivo da escolha, o Dr. Rosenberg revela que sua decisão foi baseada na afinidade religiosa, já que ambos compartilham a mesma fé judaica. Ele questiona Marcos se vê algum problema nisso, deixando implícita a complexidade e a delicadeza da situação.

Dilema Completo:

#012 – Cotas Étnicas

O escritório do Dr. Rosenberg cresceu muito nos últimos anos. Hoje já são mais de 50 advogados trabalhando em várias áreas: civil, criminal, trabalhista, tributária, etc. Um novo cliente, de grande porte, acabou de contratar o escritório para assessorá-lo em questões tributárias. Dr. Rosenberg precisa encontrar pelo menos mais um advogado na área, pois o volume de trabalho será grande. Como de praxe, Dr. Rosenberg contratou uma consultoria especializada no recrutamento e seleção de pessoas para o seu escritório. Após receber uma quantidade enorme de currículos, o processo de seleção rigoroso encontrou dois candidatos dentro do perfil da vaga e separou os dois currículos para que o Dr. Rosenberg fizesse a entrevista final e decidisse qual candidato contrataria. Os dois candidatos tinham a mesma formação, o mesmo nível de experiência, o mesmo tempo de formado, mesma idade, mesmo estado civil e, atingiram as mesmas pontuações em todos os testes aplicados pela consultoria. Só existia duas diferenças que, do ponto de vista da consultoria, não iriam fazer a menor diferença. O candidato Pedro era branco e judeu e o candidato Marcos era negro e ateu. Será uma difícil a escolha.

No dia da entrevista os dois candidatos apareceram bem vestidos, porte elegante, fala tranquila e estavam na recepção do escritório aguardando para o Dr. Rosenberg chamá-los.

E assim foi feito. Primeiro entrou Pedro que ficou uma hora em entrevista. Logo a seguir entrou o Marcos e ficou também 1 hora em entrevista.

Pedro e Marcos ficaram esperando na recepção a decisão, conforme pedido pelo Dr. Rosenberg que estava reunido com o consultor que encaminhou os dois candidatos.

Quinze minutos após, Dr. Rosenberg pediu para Pedro em Marcos entrarem e falou sobre a sua decisão de contratar o Pedro. Neste momento Marcos perguntou se o Dr. Rosenberg poderia falar qual o motivo da sua escolha, pois ele queria melhorar em outras entrevistas em outras empresas.

Dr. Rosenberg falou: “ Nada de especial. Gostei muito dos dois. Pena que eu tenho uma vaga só. Os dois são competentes e têm a mesma experiência. Fiquei muito indeciso em quem contratar. Segui minha intuição de contratar um judeu, já que sou judeu também. Você vê algum problema com isso? ”.

Comentários:

O dilema enfrentado pelo Dr. Rosenberg ao escolher entre dois candidatos igualmente qualificados para uma posição em seu escritório de advocacia, baseando sua decisão final na afinidade religiosa, levanta questões profundas sobre ética, discriminação e diversidade no local de trabalho. Para analisar este dilema, recorremos à corrente filosófica da ética da justiça, particularmente conforme articulada por John Rawls.

Corrente Filosófica: Ética da Justiça de John Rawls

John Rawls, em sua obra "Uma Teoria da Justiça", propõe dois princípios fundamentais de justiça: o primeiro princípio assegura a igualdade de direitos e liberdades básicas, enquanto o segundo princípio, conhecido como o princípio da diferença, afirma que as desigualdades sociais e econômicas devem ser organizadas de modo que sejam tanto a maior vantagem dos menos favorecidos quanto ligadas a posições e cargos acessíveis a todos. A decisão do Dr. Rosenberg, ao favorecer um candidato com base na afinidade religiosa, entra em conflito com o princípio rawlsiano de justiça como equidade, que defende a imparcialidade e a igualdade de oportunidades.

A escolha do Dr. Rosenberg pode ser vista como uma violação do véu da ignorância, um conceito proposto por Rawls para garantir a imparcialidade nas decisões éticas, onde os decisores devem fazer escolhas sem conhecer sua posição na sociedade, incluindo sua religião, raça ou status econômico. Ao basear sua decisão em uma característica pessoal, como a religião, o Dr. Rosenberg falha em aderir a este princípio de justiça, potencialmente perpetuando desigualdades e preconceitos no ambiente de trabalho.

Respondendo às Questões:

1. A decisão do Dr. Rosenberg viola princípios de igualdade e não discriminação no ambiente de trabalho?

Sim, a decisão viola princípios de igualdade e não discriminação, ao basear a escolha de um candidato em uma característica pessoal irrelevante para o desempenho da função, contrariando o princípio de justiça como equidade proposto por Rawls.

2. Como o conceito do véu da ignorância de Rawls poderia ter influenciado uma decisão mais justa?

Aplicando o conceito do véu da ignorância, o Dr. Rosenberg teria feito sua escolha sem considerar as características pessoais dos candidatos, como religião ou raça, focando exclusivamente em critérios objetivos de competência e qualificação, o que levaria a uma decisão mais justa e imparcial.

3. A escolha baseada na afinidade religiosa pode ser justificada sob alguma circunstância ética?

Sob a perspectiva da ética da justiça de Rawls, a escolha baseada em afinidade religiosa não pode ser justificada, pois contraria o princípio de igualdade de oportunidades. A única circunstância em que características pessoais como religião poderiam ser consideradas seria se estivessem diretamente relacionadas às qualificações necessárias para o desempenho do cargo, o que não é o caso neste dilema.

Referências Bibliográficas:

  • Rawls, J. (1971). *Uma Teoria da Justiça*. Harvard University Press.

  • Sandel, M. J. (2009). *Justiça: O que é fazer a coisa certa*. Farrar, Straus and Giroux.

  • Freeman, S. (2007). *Rawls*. Routledge.

 

A análise deste dilema, através da lente da ética da justiça de John Rawls, destaca a importância da imparcialidade e da igualdade de oportunidades nas decisões de contratação, reforçando a necessidade de critérios objetivos que promovam a justiça e a equidade no ambiente de trabalho.

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